Luiz Jerônimo Filho, aos 89 anos, recorda a carta enviada ao tio, publicada no O POVO em 1945, com notícias da guerra
Foto Fábio Lima
Por Samaísa dos Anjos.
A rendição alemã na Segunda Guerra Mundial, em 1945 – marco para o começo do fim do conflito - completa 70 anos hoje, mas o que foi visto e vivido em terras europeias é presença constante para cearenses que combateram na época. Para as famílias que ficaram no Ceará, as cartas eram as pontes para saber o que se passava do outro lado do oceano. Luiz Jerônimo Filho, hoje com 89 anos, relembrou uma das cartas que enviou ao tio sobre a experiência na Itália nas páginas do jornal O POVO, publicada em 26 de abril de 1945.
Por meio do relato partilhado, os cearenses puderam entender um pouco mais das motivações e o cotidiano dos conterrâneos na guerra em 1945. “Estou com saúde e bem disposto para enfrentar o inimigo covarde, o qual tem procurado aniquilar o mundo com ideias más”, relatava a carta do jovem de 19 anos, também pedindo que não chorassem caso ele viesse a morrer durante a guerra. Luiz Jerônimo foi para a Itália como voluntário da Força Expedicionária Brasileira (FEB).
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Se, para muitos, a data da rendição foi o começo da esperança de tempos sem guerra, a notícia não levou nenhum alívio para o então combatente Luiz Jerônimo. Ele relembra, 70 anos depois, que o receio era de que fosse necessário seguir para o Japão, onde a guerra continuou, com momentos como os bombardeios às cidades de Hiroshima e Nagasaki, em agosto de 1945. A rendição oficial do Japão só aconteceu no início de setembro.
Os meses pós-rendição, no entanto, foram de recuperação, ocupação do palácio do ditador italiano Mussolini (que havia fugido, sido capturado e executado) e a comemoração em Roma do aniversário de 20 anos do cearense que tanto ansiou participar daquele momento. Para os combatentes brasileiros na Europa, o momento era de esperar a volta para casa com cautela, enquanto milhares ainda morriam no Pacífico.
Voluntárias da Pátria
Luiz lembra que foi o primeiro voluntário civil em Fortaleza, aos 18 anos e, quando o voluntariado foi aberto, madrugou com a documentação. Entre os cearenses, também estava Terto Maximiliano de Sousa, então com 15 anos, quando a idade não era mais pré-requisito para se voluntariar. “Você não pode nem imaginar as coisas ruins que a gente viu”, sentencia, hoje com 86, citando o período que passou na Europa, de julho de 1944 a outubro do ano seguinte.
Os motivos para jovens civis tomarem o rumo da Europa marcada pela destruição eram muitos. “Eu era muito patriota, mas a minha maior revolta era ver os nossos navios serem afundados pelos submarinos (alemães). Cada vez eu ficava com mais vontade de ir”, comentou Luiz. “Por onde eles passavam era destruição total. Só restava a terra”, relembra Terto, comentando que a missão das tropas brasileiras, entre outras, era expulsar os alemães do território italiano.
Na memória, as experiências dolorosas das perdas de companheiros nos próprios braços, o olhar aterrorizador da violência, o encontro com a força das bombas e armas. No entanto, também ficaram gravadas a acolhida de italianos e americanos aos combatentes brasileiros e o começo de amizades que perduram até hoje, sedimentadas pela cumplicidade do que foi visto em tempos de guerra, como é o caso de Luiz e Terto.
Saiba mais
Uma lembrança de Luiz Jerônimo foi a dispensa por parte das Forças Armadas dos civis antes mesmo da volta ao País. Ele comenta que muitos voltaram com sérias sequelas do combate e não tinham o suporte por não serem militares. Somente em 1957, Luiz – entre muitos outros – conseguiu o reconhecimento e foi reformado como 3º sargento.
Uma figura presente na memória dele é Frei Orlando, capitão capelão militar. O religioso integrou-se à Força Expedicionária Brasileira (FEB), por meio 11º Regimento de Infantaria. Luiz lembra a dedicação dele aos combatentes. Frei Orlando morreu em 1945 durante um incidente de guerra, aos 32 anos. E foi instituído patrono do Serviço de Assistência Religiosa do Exército.
Hoje, às 16h30min, o Comando da 10ª Região Militar sedia solenidade alusiva ao 70º aniversário do término da Segunda Guerra. O POVO será homenageado.
Fonte: Jornal O Povo
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