Os portugueses começaram a escravizar o negro africano desde o século XV, levando-o para os trabalhos domésticos na Europa, para as lavouras do sul de Portugal e para as plantações de cana-de-açúcar nas ilhas da Madeira e Cabo Verde.
A escravidão negra no Brasil não foi uma questão de preferir o negro ao nativo (índio), mas sim uma questão de interesse da burguesia portuguesa, que já se enriquecia com o tráfico negreiro antes da descoberta do Brasil.
“Foi à custa do sacrifício da raça negra, lavrando solo ou explorando minérios, que cresceu a civilização.” (Souto Maior)
Os negros impulsionaram a economia do Brasil (colônia portuguesa), bem como o da metrópole (Portugal). Foram os motores do desenvolvimento econômico e social do Brasil.
“O produto brasileiro mais conhecido pelos comerciantes de escravos na África no século XVII era a cachaça” (Felipe Van Deursen). O produto era tão popular no tempo da colônia que Portugal tentou diversas vezes coibir sua produção e consumo, isso para proteger outras bebidas típicas, como o vinho.
Mas, como tudo que é proibido se torna atrativo, “a proibição estimulou ainda mais o tráfico da bebida e, quando Portugal retomou Angola do controle holandês, em 1650, a colônia africana passou a receber um mar de cachaça anualmente”. (Felipe Van Deursen)
O historiador Luis Felipe de Alencastro, no clássico O Trato dos Viventes – Formação do Brasil no Atlântico Sul XVI e XVII, afirma que, entre 1710 e 1830, um em cada quatro escravos trazidos da África foi trocado por cachaça em Luanda. Juntamente com o tabaco baiano, outro produto usado no tráfico, quase 1 milhão de negros, que tinham contato com a bebida já nos porões dos navios negreiros que o traziam para o Brasil.
Segundo Henrique Carneiro, historiador da USP, “os traficantes chegavam a misturar água do mar e pimenta na aguardente brasileira antes de chegar a Angola. Tudo para aumentar o volume da bebida que seria trocada por escravos.
“Por estar presente no folclore, na religião, nos costumes e na cultura do Brasil há séculos, a cachaça acumulou centenas de sinônimos (de suor-de-alambique a quebra-mulheca). No Aurélio, há 147 termos para a aguardente, enquanto no Houaiss são 420” (Felipe Van Deursen).
Para estimular a exportação, o governo federal decretou no ano de 2003 que a “cachaça” mesmo é só a aguardente de cana produzida no Brasil. É um produto tipicamente brasileiro. Faz parte de nossa cultura.
Na verdade, “o tráfico negreiro movido a bebida ajudou na formação do sistema moderno de comércio mundial” (Felipe Van Deursen).
Com tudo isso pode concluir que verdadeiramente a moeda que movimentava o Brasil colônia era a troca de escravos trazidos da África, por produtos como a cachaça produzida aqui no Brasil.
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