O que, ocorre quando a corte portuguesa, acompanhada de uma comitiva de cerca de 15 mil pessoas, transfere-se para a cidade do Rio de Janeiro, mergulhada na exuberância da paisagem tropical e na cadência dos milhares de negros e mestiços que povoam suas ruas?
Iluminando uma face nova desse período, o historiador Jurandir Malerba, baseado em vasta documentação, examina minuciosamente o impacto da estada da família real no Brasil, entre os cortesãos portugueses e os negociantes fluminenses em torno da presença do rei dom João.
Político hábil, o monarca governou na confluência dos interesses da sociedade fluminense – abastada pelo lucrativo comércio do tráfico negreiro – com os da sociedade de corte portuguesa – detentora de cerimoniais, etiquetas e títulos, mas economicamente falida. Em troca de apoio financeiro, moradias e outras ajudas, o rei fez larga distribuição de mercês e títulos; além disso, através da cerimônia do beija-mão real, realizada diariamente no palácio de São Cristóvão, concedia suas graças reais aos fiéis vassalos.
Assim, deslocada para um novo cenário, a corte reproduziu rapidamente as manifestações festivas e luxuosas das sociedades do Antigo Regime: Te-déuns, repiques de sinos salvas de artilharia, queima de fogos de artifício, cortejos, arcos triunfais, missas, teatros, óperas. O próprio rei, que se apresentava como pai do povo e cuja figura se revestia de caráter sagrado, também integrava as representações públicas do período joanino.
Esse contato entre as elites deflagrou transformações sensíveis os costumes no Rio de Janeiro e, ao mesmo tempo, contribuiu para forjar o Estado no Brasil – fruto de um acordo para manter os privilégios daqueles que gravitavam ao redor do trono, excluindo deliberadamente o restante da população das decisões da vida nacional.
(Trecho retirado do próprio livro A Corte no Exílio, de Jurandir Malerba, em 13 de fevereiro de 2010.
Nenhum comentário:
Postar um comentário