RESENHA DO FILME
Todo filme que se basear nos horrores do Nazismo certamente atingirá em cheio os olhos da Academia de Ciências Cinematográficas de Hollywood. A presença de O Leitor, filme do diretor Stephen Daldry, em cinco catgeorias prova isso. Ninguém esperava por uma lembrança tão significativa no Oscar – mas de fato, e injustamente, ela existiu. Rick Gervais já havia dito isto àWinslet: na última edição do Globo de Ouro ele soltou a hilária frase “eu disse que bastava fazer um filme sobre o Holocausto que os prêmios viriam”. Eles vieram.
Michael Berg (David Kross, numa atuação digna de aplausos) interpreta um adolescente de 15 anos que vive na Alemanha pós-guerra, e por ocasião do destino, conhece Hanna Schmitz (Kate Winslet, de quem falarei mais tarde), uma mulher 20 anos mais velha. Do simples encontro nasce entre os dois uma forte e tórrida paixão, com direito à descoberta sexual, regada à leituras interessantíssimas dos mais celebrados e variados autores mundiais. Mas a relação de ambos sofre um duro golpe quando Hanna desaparece de forma misteriosa – para reencontrá-lo anos depois; Michael já é um estudante de direito e ela, uma ré da justiça acusada de crimes nazistas. Vivenciando toda a sordidez de acusações e profundamente decepcionado com a mulher que amava, Michael tem agora uma difícil tarefa: conviver com as muitas dúvidas que envolvem o caráter de Hanna.
Adaptado de um livro escrito pelo alemão Bernard Schlink, que tornou-se o primeiro livro da Alemanha a atingir o topo dos best-sellers do New York Times, o filme conta com uma adaptação inconstante do inglês David Hare. O primeiro ato – que se vale principalmente das cenas de paixão entre o casal protagonista - guarda consigo todo o clímax que O Leitor poderia passar. É um início que se aproxima do fantástico, e prende a atenção de quem o assiste a cada instante, provocando ansiedade e furor consideráveis. Na segunda parte, porém, há uma queda vertiginosa de qualidade, uma espécie de piora brusca e significativa no quadro de um paciente que já dava os primeiros sinais de morte. A ambientação em duas fases distintas (mostrando Michael já maduro, interpretado por Ralph Fiennes), apesar de necessária à narrativa, é absurdamente aborrecida. E tal bloco, somado às partes de tribunal (que compõe substancial tempo da película), tornam-se quase insuportáveis.
Dentre os pontos positivos estão as magníficas atuações da dupla de protagonistas (embora Kate se encaixe muito melhor na categoria coadjuvante). Ela demonstra a velha maturidade de sempre, ainda que seus desempenhos em Pecados Íntimos eBrilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças sejam muito mais apropriados para receber um Oscar. A manobra da Academia (indicando-a na categoria principal) parece na verdade um sinal claro de que, após seis indicações, finalmente ela sairá com sua estatueta. Outro que está bem é Fiennes, que apresenta em sua atuação o único motivo a que se valha prestigiar as cenas do futuro de Michael Berg, que são em suma, chatíssimas. Vale ressaltar o trabalho de fotografia de Roger Deakins e Chris Menges, muito bem enquadrada e tecnicamente perfeita. Na contramão de tanto espetáculo, apenas a trilha sonora insossa e deslocada de Nico Muhly; apesar de expressar a melancolia necessária à história, é cansativa e sempre parece estar vivendo um momento diferente do que se passa na tela.
Ainda que o roteiro prejudique o bom andamento de o Leitor, é importante ressaltar que Hare deu ao cinema uma das primeiras visões não-sentimentalistas sobre o Nazismo, eximindo as linhas de seu roteiro de julgo ou mesmo de obviedades. Nada de opressores e oprimidos, inocentes ou culpados; apenas uma relação complexa entre duas pessoas comuns, com um legado repleto de mentiras sórdidas e verdades inescapáveis.
The Reader – ING – 2008 – Direção: Stephen Daldry– Elenco: Kate Winslet, David Kross, Ralph Fiennes, Lena Olin – 124 min – Gênero: Drama
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