sábado, 5 de dezembro de 2009

MUSEU: ESPAÇO RESERVADO A MEMÓRIA.




Antes de falar o seu objetivo podemos perguntar o que é museu? Dezenas de respostas teríamos, mais segundo o Conselho Internacional de Museus – ICOM, reconhece como Museu a instituição “que conserve e apresente coleções de objetos de caráter cultural ou científico, para fins de estudo, educação e satisfação”. Assim, essa denominação abrange “galerias permanentes de exposição, dependentes de bibliotecas ou de centros de documentação; os monumentos históricos, as partes de monumentos ou suas dependências, assim como os tesouros das igrejas, os locais históricos, arqueológicos e naturais, desde que abertos oficialmente à visitação pública; os jardins botânicos e zoológicos, aquários e aviários e outras instituições que apresentem espécimes vivos; os parques naturais” (§ 2º, arts. 3º e 4º do Estatuto).



O museu é uma casa de criação onde se preserva a memória de uma cidade, de um país, de uma pessoa, enfim é o lugar de histórias interessantes que nos faz viajar no tempo. Mas, apesar de contar histórias que já aconteceu, o Museu é o lugar para pensarmos o presente e refletirmos sobre o nosso tempo. Quando visitamos um museu podemos pensar, por exemplo, na mudança dos objetos. Imaginem como o processo da escrita foi se modificando ao longo da história, desde a invenção do papel até a criação do computador... Pensem, também na evolução urbana, como viviam nossos antepassados? E hoje, como vivemos? Já imaginaram se um homem pré-histórico viesse nos visitar? Com certeza ele iria estranhar os enormes prédios existentes pela cidade, os túneis, as pontes, o metrô enfim, os vários elementos que constituem uma cidade moderna.
“Na sua própria definição, o museu sempre teve um caráter pedagógico. Qualquer museu é um lugar onde são expostos objetos e isso engendra processos comunicativos que necessariamente implica na seleção das que devem ir para o acervo e no modo de ordenar as exposições.” (Freire, 1982, p.23)
Ninguém vai a uma exposição de relógios antigos para saber as horas. No espaço expositivo, o objeto perde seu valor de uso: a cadeira não serve para sentar, assim como a arma não é usada para disparar... Tudo isso compunha o discurso figurativo de glorificação da história de heróis e indivíduos de destaque. Mais lembramos que a história de um povo não se faz só com figuras ou famílias ilustres mais com o povo simples e humilde como o gari, costureiras, pedreiros, padeiros e tantos outros personagens esquecidos mais que por trás da cortina do esquecimento fazem história.                                                                                                             Num museu o objetivo não é mais a celebração do objeto e sim a reflexão critica. Se antes os objetos eram contemplados, agora devem ser analisados.
Conhecer o passado de modo crítico significa, antes de tudo, viver o tempo presente como mudança, como algo que não era que está sendo e que pode ser diferente.
Se aprendermos a ler palavras, é preciso exercitar o ato de ler a história que há nos objetos.
O museu não é um espaço de mutuados de objetos, pois não se trata mais de informar datas e fatos – “o que aconteceu”. O que fica exposto, nesse caso, é uma problemática histórica: o surgimento de Aracoiaba como campo de lutas e conquistas. Sendo assim, a história deixa de ser o pretérito morto para emergir como passado eivando de presente, pois a questão dos poderes em conflitos diz respeito ao mundo no qual vivemos.
Não se trata mais de “visitar o passado” e sim animar conhecimento sobre o tempo pretérito, em relação com o que é vivido no presente.
“O museu é transformado em fornecedor de dados”. (Paulo Freire)
Não podemos deixar de afirmar que em qualquer museu, a presença de monitores é indispensável. No caso de Aracoiaba não se deve fugir a regra. E que não seja qualquer pessoa mais alguém comprometido com a história do município de Aracoiaba e suas problemáticas, para que possa não só explanar o passado mais contextualizar os fatos presentes.
Como ressalta Paul Veyne (1982, p. 45), “um fato não é um ser, mas um cruzamento de itinerários possíveis”. Conhecer o passado significa interrogá-lo a partir de questões historicamente fundamentadas.
É fundamental que a organização de um museu seja a partir de fatos que marcaram a história de um povo, de preferência em ordem cronológica como forma de se situar no tempo e no espaço, onde esses mesmos fatos se deram, até para facilitar o visitante no seu conhecimento histórico. Objetos do século XVII não podem ficar juntos com objetos do século XIX isso dificulta a leitura do objeto no seu contexto histórico. É interessante trabalhar com salas temáticas: Sala I: “Aracoiaba - século XVII”; Sala II: “Aracoiaba - século XVIII”... E assim vai até o século atual. Isso dá uma compreensão dos acontecimentos em Aracoiaba, em todos os séculos.
Não precisamos mexer nos objetos eles falarão por se só. O que precisamos não é compreender o objeto, mais o seu tempo. Pois é lá que temos a resposta do hoje para desenharmos um futuro melhor.
Falar sobre o objeto é falar necessariamente acerca de nossa própria historicidade.
Não se usa o museu para si, mais para compreender o cotidiano de um povo. Foi com esse objetivo que o saudoso e historiador Dr. Salomão Alves de Moura, preocupado em resgatar a História de Aracoiaba, lutou décadas em prol de um espaço que pudesse expressar todas as notas dessa sinfonia de pássaros chamada: Aracoiaba. Então, por Decreto Municipal, a partir de quinze de agosto de 2009 é implantado na antiga fábrica de algodão que por muito tempo foi um dos motores da economia de Aracoiaba, o tão sonhado e desejado Museu. Parabéns! Aracoiaba, pelos seus 119º anos e pelo Museu Histórico e cultural Dr. Salomão Alves de Moura.



FONTE DE PESQUISA: Arquivos sobre museu, de Francisco Régis Lopes Ramos (diretor do museu do Ceará)


 João Artur R. Oliveira
 Historiador.
Aracoiaba/Ceará; 15 de agosto de 2009.


(Texto elaborado por João Artur no dia da inauguração do Museu de Aracoiaba) 

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HISTÓRIA DE PACOTI - CEARÁ

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