Alunos e pesquisadores da UFRJ discutiram conceitos de cidadania ativa e participação política
Texto de Aline Salgado (28/06/2013).
Adaptação de João Artur.
Pesquisadores e alunos da UFRJ discutem os rumos das mobilizações que têm levado milhões a gritarem por um país mais justo.
O incômodo causado pelo gás lacrimogêneo ainda é sentido, mas não é suficiente para conter a inquietação de milhares que vêm tomando as avenidas das principais cidades do país. Assim como em 2013, as vozes das ruas ganharam materialidade no discurso dos intelectuais. Buscando refletir e, especialmente, ajudar a amadurecer o movimento de várias caras e bandeiras, o Laboratório do Estudo do Tempo Presente da História Recente, do Instituto de História da UFRJ, realizou um debate que reuniu professores e alunos.
O encontro realizado no anfiteatro do IFCS foi mediado pela professora Maria Paula Nascimento Araújo e contou com a presença de Francisco Carlos Teixeira, doutor em História Social, e do representante do Centro Acadêmico Manuel Mauricio (Camma), Afonso Fernandes. Convidada especial, Isabel Lustosa, pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa, relembrou seu tempo de militância, quando ainda era uma jovem universitária que ajudou a fundar o PT (Partido dos Trabalhadores), num momento em que o movimento estudantil tinha na morte do jovem Edson Luís uma de suas principais bandeiras de luta contra a ditadura no dia 28 de junho daquele ano. Com intuito de analisar os impactos que esse movimento é capaz de fazer.
Lustosa se considera hoje uma "ativista de sofá" e aponta para o esvaziamento político vivido nos anos 1990 e 2000 como um projeto do neoliberalismo, estimulado nos governos Collor e Fernando Henrique Cardoso. Programa este que, segundo a especialista, gerou a apatia do povo brasileiro, que, só agora, dez anos depois, parece acordar.
A professora Isabel Lustosa que na época considerava uma "ativista de sofá" apontava para o esvaziamento político vivido nos anos 1990 e 2000 como um projeto do neoliberalismo, estimulado nos governos Collor e Fernando Henrique Cardoso. Programa este que, segundo a especialista, gerou a apatia do povo brasileiro, que, só agora, quinze anos depois, parece acordar.
"A volta dos movimentos sociais às ruas é o grande lado positivo dessas manifestações. É um instigador de um regime que não tem partidos. Temos que continuar uma luta plena, que deve sim pensar o financiamento público dos partidos, para que não tenhamos mais alianças com os empresários, que sempre estarão contrários ao povo", observa Lustosa.
Segundo Aline Salgado que em 2013 escreveu esse matéria, muitos usavam o slogan 'somos as redes sociais', os jovens saíram do mundo virtual para protestarem. Mas, muito além da capacidade de mobilização social, para a pesquisadora da Fundação Casa de Rui Barbosa, a grande faceta da internet é a multiplicidade de olhares que ela gera, quebrando com o monopólio da imprensa oficial.
Para Isabel Lustosa, "A população precisa ter uma leitura crítica dos fatos e os blogs são uma alternativa à grande mídia, que não está atenta aos verdadeiros interesses do povo".
Outro que também participou tanto do movimento daquele ano (2013) que reuniu mais de um milhão à Avenida Presidente Vargas, como dos debates sobre o assunto, o professor Francisco Carlos Teixeira. Segundo ele, o que se viu foi um verdadeiro carnaval, onde uma escola com múltiplas bandeiras desfilava com alegria e consciência na antiga passarela do samba carioca.
Na mesa de debates, os professores Isabel Lustosa, Maria Paula Nascimento, Francisco Carlos e o representante do Centro Acadêmico, Afonso Fernandes
"Vimos a ala dos enfermeiros, dos homossexuais contra a 'cura gay', e um grupo de 30 pessoas fascistas, que queriam a violência pela violência. A grande questão a se perguntar diante desse turbilhão de protestos é se teremos condições de continuar mantendo 1 milhão nas ruas para manifestar?", instigava o professor diante de uma plateia de pouco mais de 50 alunos, com seus 20 e poucos anos de idade.
Para Francisco Carlos, é unânime que o movimento venha gerando frutos positivos (...) entre esses frutos a iminência da Reforma Política. Mas, segundo o historiador, a tão aguardada reforma pode prever a domesticação dos movimentos, o que, em outras palavras, seria um 'cala boca' ao povo.
"A pressão deve continuar. O grito das ruas fez as coisas andarem. É uma mentira dizerem que não há lideranças para negociar. O que há são novos líderes que não aceitam ser cooptados. A agenda é larga porque as demandas são também. São necessidades de mais de quinze anos, que devem agora ser organizadas. A rua pertence e deve continuar a pertencer a todas as cores e bandeiras", destaca Francisco Carlos.
Representando a voz da maioria que esteve ativamente nas passeatas pelo Brasil, a juventude, Afonso Fernandes, do Camma, acredita que a população brasileira está vivendo um momento de crítica à institucionalização da democracia, da atuação dos partidos e dos movimentos sociais, como a CUT e a própria UNE.
"O que levanta as pessoas são as questões sociais, do dia a dia. A educação, a saúde, o direito a usufruir de sua própria cidade. A hora agora é de ter paciência, porque as mudanças não virão da noite para o dia. Somos produto de um processo histórico e isso se constrói coletivamente", conclui o jovem, sem esquecer de convocar todos para tomarem, mais uma vez, às ruas do Centro do Rio e todo o Brasil em novo ato de cidadania. Assim como em 2013, percebe-se que 2015 começou sob as vozes entoante do Hino Nacional Brasileiro em todo o Brasil num tom de mudança.
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