Ele repousa em um armazém anônimo na extremidade norte de Berlim. O muro, inofensivo, cortado em milhares de pedaços. Segmentos inteiros de 3,60 m de altura por 1,20 m de largura e montanhas de pequenos fragmentos em caixotes de frutas e legumes.
Em vitrines, há centenas de cartões-postais incrustados de minúsculos estilhaços. O proprietário do lugar, Volker Pawlowski, é o principal "atacadista" das lojas de suvenires da capital alemã. Ele também fornece para hotéis, instituições e empresas. "Hoje eu detenho quase o monopólio", gaba-se, rindo de seus concorrentes que, segundo ele, não o são realmente.
A maioria dos pedaços foi repintada. Para os menores foram escolhidas grafites em cores pastel. E nada de se incomodar com escrúpulos: "O concreto cinza não vende bem". Mas e cores um pouco frescas demais, não correm o risco de repelir os compradores? "A única coisa que interessa é que a pedra seja original", afirma. O homem vai e vem com passo apressado. No pátio, um caminhão carrega dois grandes pedaços encomendados por um parque da Baviera. Antes da entrega, artistas vieram redesenhar os antigos afrescos. Preço de venda: 7 mil euros o par (cerca de R$ 18.200). Esse tipo de peça encontra mais compradores interessados neste ano, com o 20º aniversário da queda do Muro de Berlim. Pawlowski esfrega as mãos.
Para ele, tudo começou em 1992. Teve a ideia ao cruzar com vendedores de destroços nos becos de um mercado de pulgas. O berlinense decidiu fazer as coisas em grande estilo. Na época empregado da construção, contatou as empresas de obras públicas encarregadas de reciclar o muro. Mês a mês ele comprou cerca de 250 metros. Por quanto? Não quer dizer.
Aos 52 anos, Pawlowski garante que ainda tem para abastecer seus clientes "até o fim da [sua] vida". Pragmático, o comerciante descreve: "O muro para mim é um produto como outro qualquer. É o meu negócio". Ele emprega três pessoas em tempo parcial para fazer girar esse negócio "muito rentável".
Vinte anos após sua queda, o muro mudou bastante de natureza. Os turistas que o procuram o encontrarão mais facilmente nas barracas de comerciantes de suvenires do que nas ruas da capital alemã: com exceção de raros pedaços, hoje não resta mais nada da "muralha anti-imperialista" de 155 km que cercou Berlim ocidental durante 28 anos. A obra sinistra se evaporou.
Desde a primeira rachadura, blocos inteiros foram desmontados por berlinenses comuns, armados de picaretas e martelos. Esses anônimos, batizados de "Mauerspechte" (pica-paus do muro), reuniram às vezes verdadeiras coleções. Mais tarde, dezenas de milhares de toneladas de concreto bruto foram moídas e depois usadas na renovação de estradas da antiga Alemanha Oriental. Quanto aos painéis do centro da cidade cobertos de afrescos coloridos, o governo da RDA agonizante vendeu os pedaços mais bonitos.
Empresários da Alemanha Ocidental também aproveitaram a oportunidade comercial: graças a seus contatos no leste, alguns foram contratados para organizar leilões, dos quais o mais famoso ocorreu em Mônaco em junho de 1990. O dinheiro deveria ajudar os alemães do leste. Na realidade ninguém jamais soube quem recebeu de fato os suculentos benefícios. "Desde essa época podemos encontrar pedaços decorados em todo o mundo: no Vaticano, na ONU ou mesmo na sede da Microsoft", conta Ralf Gründer, jornalista e autor de obras que tratam do muro.
Os anos passam mas o fascínio continua intacto. O antigo símbolo de Berlim ainda é objeto de inúmeros presentes. Vimos assim a chanceler Angela Merkel oferecer um pedaço de bom tamanho a Nicolas Sarkozy em maio, durante uma reunião comum pela campanha das eleições europeias. A mesma gratificação para o corredor jamaicano Usain Bolt: a prefeitura de Berlim lhe enviou um bloco de 2,7 toneladas, como recompensa por seus três títulos mundiais conquistados em campeonatos de atletismo em agosto.
A oferta continua abundante. Em cada local emblemático da Berlim dividida, o turista recebe ofertas de pedaços de concreto de todos os tamanhos e por todos os preços: 13 euros (R$ 33,8) por algumas migalhas, 50 euros (R$ 130) por um grande paralelepípedo e o dobro se for bastante decorado. A "história" continua dando lucro. "Os pedaços do muro são os artigos mais vendidos. Para estrangeiros mas também para alemães que visitam a cidade", admite a proprietária de uma barraca a algumas centenas de metros do Checkpoint Charlie. "Eu vendo todos os dias e cada vez mais na medida em que nos aproximamos de 9 de novembro."
Quanto a provar a autenticidade de todas essas relíquias, é mais difícil. Cada um tenta a sua maneira tranquilizar os compradores. Algumas lojas fornecem "certificados" com um brasão da RDA. Totalmente ilusório, é claro... "Não existe órgão oficial encarregado de garantir a origem dos pedaços", lembra Alexandra Hildebrandt, diretora do Museu de Checkpoint Charlie.
Com frequência reina a desconfiança entre os comerciantes. "Os outros fazem o que quiserem, mas comigo as pessoas compram pois veem que é de verdade", decreta Gerd Glanze, um antigo "Mauerspechte".
O homem abriu sua loja no início da East Side Gallery, o mais longo trecho do muro (1,3 km) que ficou de pé. Nas prateleiras ele expõe cartões-postais no mínimo artesanais: ele é apresentado arrancando fragmentos com uma marreta. A legenda explica: "Ninguém destruiu sozinho tanto Muro de Berlim quanto Gerd Glanze". Ele mostra um pedaço com ar triunfante. "Vejam as cores, são as mesmas que na foto." Gostaríamos de acreditar, mas a demonstração só convence pela metade... Sua loja, em todo caso, não fica vazia. "Levar um pedaço do muro é importante para os turistas", explica esse antigo berlinense-oriental. "É tão simbólico quanto fotografar a Torre Eiffel em Paris."
Mas a exploração mercantil da antiga Cortina de Ferro não agrada a todo mundo. Alguns gritam contra esse desvio, como o artista Peter Unsicker, cujo ateliê se situava - no lado oeste - a poucos metros da muralha. Durante anos ele pintou grafites sob o nariz dos "Vopos" [a polícia alemã-oriental]. Ele se lembra bem daqueles dias do outono de 1989, do riso vingativo dos berlinenses. Às centenas, ele os viu dar pontapés nas pedras para derrubá-las.
Pedras hoje encerradas em acrílico ou montadas em chaveiros para seduzir o cliente. "É desolador", diz. "Estão comercializando a ideia de liberdade."
A maioria dos pedaços foi repintada. Para os menores foram escolhidas grafites em cores pastel. E nada de se incomodar com escrúpulos: "O concreto cinza não vende bem". Mas e cores um pouco frescas demais, não correm o risco de repelir os compradores? "A única coisa que interessa é que a pedra seja original", afirma. O homem vai e vem com passo apressado. No pátio, um caminhão carrega dois grandes pedaços encomendados por um parque da Baviera. Antes da entrega, artistas vieram redesenhar os antigos afrescos. Preço de venda: 7 mil euros o par (cerca de R$ 18.200). Esse tipo de peça encontra mais compradores interessados neste ano, com o 20º aniversário da queda do Muro de Berlim. Pawlowski esfrega as mãos.
Para ele, tudo começou em 1992. Teve a ideia ao cruzar com vendedores de destroços nos becos de um mercado de pulgas. O berlinense decidiu fazer as coisas em grande estilo. Na época empregado da construção, contatou as empresas de obras públicas encarregadas de reciclar o muro. Mês a mês ele comprou cerca de 250 metros. Por quanto? Não quer dizer.
Aos 52 anos, Pawlowski garante que ainda tem para abastecer seus clientes "até o fim da [sua] vida". Pragmático, o comerciante descreve: "O muro para mim é um produto como outro qualquer. É o meu negócio". Ele emprega três pessoas em tempo parcial para fazer girar esse negócio "muito rentável".
Vinte anos após sua queda, o muro mudou bastante de natureza. Os turistas que o procuram o encontrarão mais facilmente nas barracas de comerciantes de suvenires do que nas ruas da capital alemã: com exceção de raros pedaços, hoje não resta mais nada da "muralha anti-imperialista" de 155 km que cercou Berlim ocidental durante 28 anos. A obra sinistra se evaporou.
Desde a primeira rachadura, blocos inteiros foram desmontados por berlinenses comuns, armados de picaretas e martelos. Esses anônimos, batizados de "Mauerspechte" (pica-paus do muro), reuniram às vezes verdadeiras coleções. Mais tarde, dezenas de milhares de toneladas de concreto bruto foram moídas e depois usadas na renovação de estradas da antiga Alemanha Oriental. Quanto aos painéis do centro da cidade cobertos de afrescos coloridos, o governo da RDA agonizante vendeu os pedaços mais bonitos.
Empresários da Alemanha Ocidental também aproveitaram a oportunidade comercial: graças a seus contatos no leste, alguns foram contratados para organizar leilões, dos quais o mais famoso ocorreu em Mônaco em junho de 1990. O dinheiro deveria ajudar os alemães do leste. Na realidade ninguém jamais soube quem recebeu de fato os suculentos benefícios. "Desde essa época podemos encontrar pedaços decorados em todo o mundo: no Vaticano, na ONU ou mesmo na sede da Microsoft", conta Ralf Gründer, jornalista e autor de obras que tratam do muro.
Os anos passam mas o fascínio continua intacto. O antigo símbolo de Berlim ainda é objeto de inúmeros presentes. Vimos assim a chanceler Angela Merkel oferecer um pedaço de bom tamanho a Nicolas Sarkozy em maio, durante uma reunião comum pela campanha das eleições europeias. A mesma gratificação para o corredor jamaicano Usain Bolt: a prefeitura de Berlim lhe enviou um bloco de 2,7 toneladas, como recompensa por seus três títulos mundiais conquistados em campeonatos de atletismo em agosto.
A oferta continua abundante. Em cada local emblemático da Berlim dividida, o turista recebe ofertas de pedaços de concreto de todos os tamanhos e por todos os preços: 13 euros (R$ 33,8) por algumas migalhas, 50 euros (R$ 130) por um grande paralelepípedo e o dobro se for bastante decorado. A "história" continua dando lucro. "Os pedaços do muro são os artigos mais vendidos. Para estrangeiros mas também para alemães que visitam a cidade", admite a proprietária de uma barraca a algumas centenas de metros do Checkpoint Charlie. "Eu vendo todos os dias e cada vez mais na medida em que nos aproximamos de 9 de novembro."
Quanto a provar a autenticidade de todas essas relíquias, é mais difícil. Cada um tenta a sua maneira tranquilizar os compradores. Algumas lojas fornecem "certificados" com um brasão da RDA. Totalmente ilusório, é claro... "Não existe órgão oficial encarregado de garantir a origem dos pedaços", lembra Alexandra Hildebrandt, diretora do Museu de Checkpoint Charlie.
Com frequência reina a desconfiança entre os comerciantes. "Os outros fazem o que quiserem, mas comigo as pessoas compram pois veem que é de verdade", decreta Gerd Glanze, um antigo "Mauerspechte".
O homem abriu sua loja no início da East Side Gallery, o mais longo trecho do muro (1,3 km) que ficou de pé. Nas prateleiras ele expõe cartões-postais no mínimo artesanais: ele é apresentado arrancando fragmentos com uma marreta. A legenda explica: "Ninguém destruiu sozinho tanto Muro de Berlim quanto Gerd Glanze". Ele mostra um pedaço com ar triunfante. "Vejam as cores, são as mesmas que na foto." Gostaríamos de acreditar, mas a demonstração só convence pela metade... Sua loja, em todo caso, não fica vazia. "Levar um pedaço do muro é importante para os turistas", explica esse antigo berlinense-oriental. "É tão simbólico quanto fotografar a Torre Eiffel em Paris."
Mas a exploração mercantil da antiga Cortina de Ferro não agrada a todo mundo. Alguns gritam contra esse desvio, como o artista Peter Unsicker, cujo ateliê se situava - no lado oeste - a poucos metros da muralha. Durante anos ele pintou grafites sob o nariz dos "Vopos" [a polícia alemã-oriental]. Ele se lembra bem daqueles dias do outono de 1989, do riso vingativo dos berlinenses. Às centenas, ele os viu dar pontapés nas pedras para derrubá-las.
Pedras hoje encerradas em acrílico ou montadas em chaveiros para seduzir o cliente. "É desolador", diz. "Estão comercializando a ideia de liberdade."
Entenda mais sobre o Muro de Berlim assistindo o Filme/Documentário abaixo.
Fontes: UOL (Via Site Universitário).
Documentário dublado do History Channel sobre a história do Muro de Berlim, ícone da Guerra Fria, da construção à queda. 90 minutos.
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