sexta-feira, 16 de agosto de 2024

A Origem dos Jenipapos-Kanindés em Aracoiaba - Ceará.

 Indígena Jenipapos-Kanindés conhecida em Aracoiaba como Brasiliana
                (Foto do Acervo de Dr. Salomão Alves de Moura Brasil)

 Texto Adaptado por Artur Ricardo.

Etimologia – De Jenipapo, (fruto silvestre e comestível), é uma palavra de origem tupi yandï'pawa que significa 'fruta que serve para pintar'. Em registros linguísticos mais antigos, a palavra aportuguesada era grafada com 'g', genipapo. Daí o nome científico de jenipapeiro ser Genipa americana. Porém, as línguas evoluem. Hoje, a norma culta convencionou que para as palavras de origem indígena, africana, exótica ou árabe deve-se usar o ‘j’, como jenipapo, jiló, jequitibá, berinjela.

História: O nome Payaku designa uma etnia numerosa que, no século XVI, habitava toda a faixa sublitorânea dos atuais estados do Rio Grande do Norte e Ceará. Hoje, o grupo que ficou mais conhecido como Jenipapo-Kanindé são descendentes dos Payaku que viviam na mesma região. Habitam a Lagoa da Encantada, no município cearense de Aquirás.

Até o século XVIII, os Payaku habitavam os rios Açu, Apodi, Jaguaribe, Banabuiú e Choró. Por sua vez, os Jenipapo e  Kanindé,  semelhantes aos Tarairiú em língua e cultura, tal como os Payaku, viviam nas várzeas do Apodi, Jaguaribe e Choró. Como outros povos não-Tupi, eles ficaram conhecidos pela denominação genérica de "tapuias do Nordeste".

Fontes históricas registram que, no Ceará, os primeiros contatos dos portugueses com estes povos ocorreram entre 1603 e 1608. Arredios e resistentes à colonização, eles sofreram violências, foram escravizados e perderam progressivamente suas terras. Rebelaram-se seguidamente até serem submetidos e quase totalmente dizimados, no decorrer da chamada "Guerra dos Bárbaros", entre 1680 e 1730.

Em 1707 os Payaku foram aldeados por missionários jesuítas no rio Choró, em Aquirás, próximo de onde vivem hoje. Em 1764 a Aldeia dos Paiacús passou a chamar-se Monte-Mor-o-Velho, nome que perdurou até 1890. Na sede da aldeia criou-se a vila de Guarani (1890-1943), hoje município de Pacajus. Os Jenipapo e os kanindé foram aldeados entre 1731 e 1739 no rio Banabuiú, reunidos na Aldeia da Palma e depois em  Monte-Mor-o-Novo-d'América (1764-1858), atual município de Baturité.

Segundo o Livro “Aracoiaba, História em Retalhos”, entre 1500 a.C. e 1000 d.C. no Brasil encontravam-se núcleos de povoamentos Tupi-Guarani que se caracterizavam entre outras coisas, por serem agricultores de florestas tropicais.

Levantamento feito junto a FUNAI em 1984 mostra que os primeiros caminhos de migrações realizados pelos povos indígenas ocorreu entre os povoados de Canoa (Aracoiaba) – Jaguaribe – Iguatu. Mas antes disso, para completar o povoamento primitivo do Ceará, entre os séculos XVI e XVII, os Potiguaras, bem como os Tupis chegaram a diversas regiões do Ceará.

É importante destacar que somente esses originários conheciam o território do Ceará, no final do século XVI, embora desde 1500 as praias cearenses estivem constantemente sendo visitadas por aventureiros europeus, mais precisamente os portugueses, auxiliados muitas vezes por indígenas Tupis.

Nesse mesmo período eram concedidas terras por El-Rei Dom Pedro a seus súditos em vários recantos do Ceará como: Choró, Jaguaribe, Pacoti, Maranguape, Guaiuba, Pacatuba e em terras mais férteis, banhadas de rios e cercadas de serra, como foi o caso da Região do Maciço de Baturité, tendo como principal meio de integração o Rio Aracoiaba, que nasce em Guaramiranga e desemboca no Rio Choró e consequentemente nas praias cearenses.

Por volta de 1712, os jenipapos (que se firmaram em Canoa, atual Aracoiaba. O Distrito de Jenipapeiro recebeu essa denominação em homenagem justamente pela presença desses povos originários naquela região. Recentemente pesquisadores encontraram objetos que comprovam essa presença na localidade), se aliaram aos Kanindés e se digladiaram na bacia do Rio Banabuiú.

Segundo registros históricos, passado um ano, unidos a outras tribos como os Jaguaribaras e Anacés, assaltaram a vila do Aquiraz, causando um massacre com mais de 200 mortos. Esse fato ficou conhecido como rebelião de 1713/1715, que quase pôs fim aos brancos do Ceará. Esses conflitos eram constantes entre índios, estrangeiros e seus descendentes. 

Foi o caso das tribos dos Jenipapos, que foram derrotados finalmente em 1721. Quatro anos depois, foi a vez dos Anacés e Jaguaribaras, atacarem no riacho Aracoiaba, no Maciço de Baturité. Segundo escritos da época aponta esse ataque como sendo o mais sangrento já visto entre indígenas em terras cearenses. Esse fato ficou conhecido como “Guerra entre o Rio Aracoiaba”.

Em 1739, o indígena jenipapo Miguel da Silva Cardoso, com 32 anos de idade, pediu ao governador de Pernambuco, já que a Província do Ceará estava ligada à Pernambuco, amparo à sua gente, que lhe concedeu aldeamento.

Logo o governo de Pernambuco concedeu aos Jenipapos, juntamente com os Kanindés que se instalassem na região denominada de Tabuleiro da Areia, em Banabuiú. A seguir foram conduzidos para o alto da Serra de Baturité, num local que anos depois recebeu o nome de “Comum”.

Em 14 de abril de 1764 foi instalada a Real Vila de Monte-Mor, o Novo da América, nesse período foi elevada à condição de Vila, posteriormente em 1859, à categoria de cidade, com o nome de Baturité. Alguns dados mostram que em 1808 a Vila de Monte-Mor, o Novo da América, contava com apenas 1500 habitantes, sem contar com os moradores dos núcleos de Candeia, Acarape, Cajuais e Pindoba.

Para o fortalecimento e formação da Vila, as autoridades da época contaram com tribos indígenas como os Quixelôs da Missão da Telha, localizadas na cidade de Iguatu, bem como os Jenipapos e Kanindés da Missão de Nossa Senhora da Palma e mais alguns remanescentes de tribos diversas instaladas nas regiões próximas.

Não podemos esquecer que os Jenipapos viviam primeiramente no Jaguaribe, de onde foram retirados para o Piauí, juntamente com os Icós, por ordem do governador em 1723.

Já os Kanindés, seus parentes, viviam no Rio Grande do Norte e apoiaram os holandeses no século XVII que a partir de 1699 já estavam pacificados no Ceará, após a derrota dos flamengos, quando ocupavam as vertentes do Rio Curu ao poente da Serra de Baturité.

As terras que abrange a Região do Maciço de Baturité foram ocupadas primeiramente por aldeamento indígenas que vindos de diversos recantos do Ceará procuraram fazer aldeamentos que com o tempo foram formando vilas e consequentemente cidades, foi o caso de Baturité, Canoa (Aracoiaba) e demais cidades da região. É tão provável esse estudo que muitas cidade do Ceará, estão ligadas diretamente com a língua Tupi-Guarani, é o caso de Aracoiaba que em Tupy significa “Cidade onde os pássaros cantam”; Itapiúna – “donde se obtém lugar predominantemente estrutura em pedras pretas” (Silveira Bueno); Baturité – “Serra por excelência” (Silveira Bueno); Aratuba – “Lugar alto” (Batista Aragão); Acarape – “Caminho dos Acarás (peixe)” (Theodoro Sampaio); Ocara – “Terreiro, área fora de casa” (Straadelli); Pacoti – “Lagoa onde as colheitas são constantes” (Thomaz Pompeu Sobrinho).

 

 

 

Referências

Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística https://semil.sp.gov.br/2016/06/jenipapo-se-escreve-com-j/#:~:text=Jenipapo%20%C3%A9%20uma%20palavra%20de,jenipapeiro%20ser%20Genipa%20americana%20L.. – Acessado em 07 de abril de 2024.

Trechos do texto de Maria Sylvia Porto Alegre (UFC)  - Site (Povos Indígenas noBrasil.https://pib.socioambiental.org/)   https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:JenipapoKanind%C3%A9#:~:text=Hist%C3%B3rico%20do%20contato&text=Fontes%20hist%C3%B3ricas%20registram%20que%2C%20no,e%20perderam%20progressivamente%20suas%20terras.  – Acessado em 07 de abril de 2024.

MATOS, Rose Mary Santana. Aracoiaba, história em retalhos. Vol. I.  Fortaleza-Ceará. Ed. Premius. 2012. pp. 52-55.

ARAGÃO, R. Batista. Índios do Ceará & Topônimos Indígenas. Fortaleza. Barraca do escritor Cearense. 1994. pp. 114-150.

JUCÁ, Levi. Pacoti: História e Memória. Fortaleza. Premius. 2014. p. 75.

 

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HISTÓRIA DE PACOTI - CEARÁ

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