segunda-feira, 9 de setembro de 2024

HISTÓRIA DA PARÓQUIA NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO - ARACOIABA / CEARÁ.

 

Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição - Aracoiaba / Ceará.
Foto dos arquivos da Paróquia de Aracoiaba (Facebook). Ano 2023.


Primeira Capela de Canoa (1914) - Aracoiaba-Ceará
Foto dos arquivos de Artur Ricardo.



Texto de Lusmar Paz.

Nossa cidade, no passado, fora um povoado. Com o tempo tonou-se vila e nesta vila fora erigida uma Capela no ano de 1879, consagrada a Nossa Senhora da Conceição. Esta Capela fora construída em dois anos numa época de uma grande seca e epidemia. Na Vila de Canoa as famílias viviam da agricultura e do trabalho na Estrada de Ferro, antiga RFFSA (Rede Ferroviária Federal S.A.). Muitos homens faleceram e outros ficaram sem emprego, então as mulheres procuraram trabalho para o sustento da família e encontraram-no na construção da Capela. Sendo assim, a primeira Capela de Canoa, fora construída com a ajuda da força braçal das mulheres. Mulheres destemidas, mulheres corajosas, mulheres heroicas. Antes da construção da Capela as Missas e a administração dos sacramentos eram realizados nos alpendres das residências.

Em 16 de agosto de 1890, acontece a Emancipação Politica de Canoa, recebendo o nome de Aracoiaba. A nova  cidade fora se desenvolvendo e a população aumentando. Foi então que o bispo de Fortaleza, Dom Manoel da Silva Gomes, cria a Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, no dia 23 de Maio de 1914, nomeando como primeiro pároco Pe. Godofredo Cândido dos Santos, que permaneceu na paróquia durante 9 anos. Naquela época a Paróquia já tinha sua casa paroquial que é a mesma casa atual.

Casa Paroquial de Aracoiaba - Ceará. Década de 1990.
Foto dos arquivos de Artur Ricardo.

O primeiro batizado realizado pelo Pe. Godofredo, na nova paróquia aconteceu no dia 12 de julho de 1914. A criança do sexo masculino recebeu o nome de João. O primeiro casamento na nova paróquia fora assistido pelo mesmo pároco sendo o casal Francisco Izeodoro e Maria Santana, isso no dia 27 de junho de 1914.

Na Paróquia de Aracoiaba, nos anos de 1921 a 1927 tivemos as Santas Missões cujos pregadores, eram bispos, padres  e frades. A caravana de pregadores, na sua maioria,  chegava de trem na Estação Ferroviária do Arraial Santa Isabel. Eram recepcionados pela Banda de Música e palavras de boas vindas do prefeito, além da presença das associações religiosas existentes na paróquia. Estiveram em Aracoiaba em tempo de missões: Dom Manuel da Silva Gomes, Dom Antônio de Almeida Lustosa, Arcebispos em Fortaleza e o nosso conterrâneo Dom Raimundo de Castro e Silva. Era um tempo de penitência e convite a conversão. Na sede de Aracoiaba, era montado um púlpito ao lado da Igreja para as pregações, iniciadas de madrugada. Missas, confissões, crisma, procissões de madrugada, etc., tudo isso acontecia naquele tempo forte de evangelização. Em 1929, segundo relato do livro de atas, as missões realizadas numa semana em Aracoiaba, tiveram um total de 2.900 comunhões, grande era a participação popular.

As maiores missões nas localidades de Aracoiaba foram realizadas no Mororó, Pedra Branca  Jaguarão, Ideal e Vazantes.

Em 1886, na localidade de Moamba, no Alto Santo aconteceram as Aparições de Nossa Senhora das Dores. Em 1928, uma grande cura acontecera e a pessoa miraculada construiu com a ajuda da comunidade uma Capela Maior, pois a Capela primitiva no local das Aparições era pequena e rústica. Em 1986, aniversário das Aparições, fora reconstruída a pequena Capela no lugar das Aparições. No dia 27 de maio de 1987, fora lançado o primeiro e único livreto com a história das Aparições tendo como autor Pe. Andrade e o coautor Lusmar Paz.

Com a chegada do Pe. Evando, a história das Aparições ficaram notabilizadas. Grandes mudanças aconteceram próximos as duas capelas para melhor acolher os peregrinos.. Esta devoção e assistência espiritual continuam vivas.

No dia 02 de fevereiro de 1928, Pe. Francisco de Lima Freitas, filho de Capistrano-CE., 3º pároco em Aracoiaba, benzeu o novo Cruzeiro defronte a Igreja Matriz. Estava presente a esta cerimônia o seminarista, depois querido bispo, filho de Aracoiaba, tio da D. Eugênia, Dom Raimundo de Castro e Silva.

Pe. Demétrio Elizeu de Lima, 5º pároco em Aracoiaba, fora o maior construtor, maior administrador na Igreja Matriz de nossa paróquia. Em 09 de outubro de 1935, fora colocado o 2º Cruzeiro, em substituição ao 1º, este colocado no Patamar da Igreja. Ainda neste ano, fora iniciada a construção da Torre da Igreja .Em 1939, fora feita a compra de um sacrário dourado, este ainda existente em nossa Paróquia, portanto, objeto sagrado centenário. Fora feita também a reforma do Altar Mor, os ladrilhos de mosaico em toda igreja. Amanhã a história da fundação da nossa paróquia continuará, numa síntese total.

Em 1953, fora inaugurado o sino da Igreja com uma criativa festa. 1959, fora colocado o grande relógio, atualmente sem funcionar. Em 03 de dezembro de 1953, fora bento o Altar de Nossa Senhora de Fátima. Relógio, sino, altar de N. Fatima, compra de imagens e criação de associações e confrarias, tudo isso no tempo do Pe. Domingos, 7º pároco, onde permaneceu nesta paróquia por um longo período de 30 anos. Fora sepultado em nossa cidade e seus restos mortais repousam no Altar de N. Sra. do Carmo, transladação nesta, uma iniciativa do Lusmar Paz e da Iracema Bezerra Vasconcelos, prima do então pároco. Vale a pena lembrar que o Patronato Nossa Senhora de Lourdes fora construído no paroquiato do Pe. Domingos. Nele residiu as irmãs Josefinas por um longo período de 30 anos.

A maior festa em Aracoiaba foi a chegada da Imagem Peregrina de N. Sra. de Fátima, vinda de Portugal. A imagem chegou em Aracoiaba no dia 03 de dezembro de 1953 às 7h da manhã, permanecendo até 11h, seguindo-se para a cidade de Baturité. Fora feito um altar de madeira no Patamar da Igreja, missa campal com a presença do bispo filho de Aracoiaba, Dom Raimundo de Castro e Silva e uma grande multidão.

As confrarias e associações religiosas criadas em nossa paróquia no passado foram: Associação dos Vicentinos, Apostolado da Oração, Franciscanos Seculares, Associação das Filhas de Maria, Associação das Mães Cristãs, Doutrina Cristã, Confraria de Nossa Senhora do Carmo, Cruzada Eucarística e a Jufra, criada pelo religioso Pe. Frei Jeremias Saraiva Teles.

As confrarias e associações religiosas mais antigas foram os Vicentinos, a Ordem Franciscana Secular, Filhas de Maria e o Apostolado da Oração.

Atualmente temos: Ordem Franciscana, Apostolado da Oração e a  Comunidade Luz de Deus.

Mais recentemente, Pe. Clóvis Nogueira de Oliveira, 18º pároco, criou a Comunidade Luz de Deus, ainda hoje atuando em nossa paróquia.

Nos tempos idos, a Festa de Corpus Christi, a tríplice bênção do Santíssimo Sacramento pelas ruas da cidade, era realizada em três residências: Sr. César Guedes Alcoforado, antiga Praça 16 de Agosto, Sr. Antônio Alves da Rocha, Rua Santos Dumont e do Sr. Castrinho, pai da D. Eugênia, rua Raimundo de Castro.

Vale a pena recordar que 12º pároco de Aracoiaba, chamava-se Pe. Gabriel Vieira Belo. Um sacerdote já idoso, piedoso, homem eucarístico, muito carismático no trato com as pessoas, principalmente as crianças. Fez uma boa reforma na Igreja e caprichou muito nas festas dos padroeiros, procissões, semana santa. Gostava de cantar e usar o harmônio da Igreja. Ficou popularmente conhecido com a música És Maria...

Não podemos esquecer das grandes e tradicionais coroações em nossa Paróquia sempre realizadas no último mês de maio. Eram realizadas defronte ao Patronato Nossa Senhora de Lourdes, no interior da Igreja Matriz e mais recentemente, de maneira mais pomposa, eram realizadas no Patamar da Igreja e quadra do Ginásio Polo Esportivo.

Antigamente, a maior festa da Igreja era a de São Francisco. Mais recentemente a Festa da Padroeira, assumiu caráter competitivo com a Festa de São Francisco, pois ambas são realizadas de maneira campal. Porém, a maior festa religiosa da Paróquia é a do Santuário Mãe das Dores.

Na Festa Centenária da Paróquia a Igreja estava sob reforma e as missas foram celebradas no Centro Catequético de maneira simples e festiva ao mesmo tempo. Foram expostos os objetos centenários ao público e apresentações foram feitas durante os dias comemorativos.

Faz-se necessário lembrar que o Pe. Josileudo, sacerdote inteligente e criativo, conquistou facilmente os paroquianos com as famosas procissões de madrugada nas Festas de São Francisco e de Nossa Senhora da Conceição. Criou e incentivou o Terço dos Homens, participava da oração. Naquele tempo contava-se 300 homens participando desta oração mariana.

Queremos lembrar da chegada em Aracoiaba das relíquias de Santa Margarida Maria Alacoque, vidente do Sagrado Coração de Jesus, no dia 05 de dezembro de 2008. Da chegada das relíquias de São Francisco das Chagas, nos dias 04 e 05 de novembro de 2017 e a chegada da Cruz Peregrina e do Ícone de Nossa Senhora, no dia 02 de março de 2013.


Chegada da Cruz Peregrina e do Ícone de Nossa Senhora, no dia 02 de março de 2013. 

Foto dos arquivos de Artur Ricardo.

Nossa paróquia tem uma bonita história. Homens de Deus, sacerdotes do Senhor, administraram esta mesma paróquia desde 1914 a 2024. São eles os ungidos do Senhor: 1º Pe. Godofredo Cândido dos Santos, 2º Pe. Henrique Vilibrordo, 3º Pe. Francisco de Lima Freitas; 4º Pe. Felipe Pinheiro, 5º Pe. Demétrio Elizeu de Lima, 6º Pe. Irineu Lima Verde Soares, 7º Pe. Domingos Rodrigues Vasconcelos, 8º Pe. Aloísio Furtado, 9º Pe. Lidorval de Melo Dantas, 10ºPe. Hugo Eduardo Furtado, 11º Pe. Frei Jeremias Saraiva Teles, 12º Pe. Gabriel Vieira Belo, 13º Pe. Antônio Honduvilla, 14º Pe. Abel Jackson Peixoto Lima, 15º Pe. Carlos Alberto Monteiro, 16º  Pe. José Ferreira de Mesquita, 17º Pe. Marcus Vinicius da Silva, 18º Pe. Clóvis Nogueira de Oliveira, 19º  Pe. Josileudo Queiroz Façanha, 20º Pe. Elizeu dos Santos, 21º Pe. Evando Alves de Andrade, 22° Pe. Martinho Alves dos Santos Neto.

Na atualidade temos como pároco Pe. Martinho Alves dos Santos Neto, o 22º pároco que se encontra em nossa paróquia há 7 anos.

Nossa paróquia tem se desenvolvido bastante nestes últimos anos.

Atualmente temos como Pastorais, grupos e Movimentos: Batismo, Catequese, Crisma, Liturgia, Matrimônio, Familiar, Criança, Coroinhas, Apostolado da Oração, Terço dos Homens, ECC, MESC, MEP, Comunidade Luz de Deus, Ordem Franciscana secular.

Destacamos com espírito de gratidão os trabalhos realizados  na administração do Pe. Martinho Alves do Nascimento Neto, dentre eles:

Modernização da Igreja Matriz: novo sistema de som de última geração, pintura da fachada exterior da Igreja com a colocação das imagens da Padroeira e Co-padroeiro. – Nova iluminação da Matriz (externa e interna), Capela do Santíssimo, novo sacrário, retorno das imagens, novo ostensório e novas alfaias, pintura da Capela do Alto Santo; bênção dos novos sacrários nas comunidades de Candeias dos Tristões, Conjunto Sólon Lima Verde, Caninhas, Bulandeira, Chapada, Vila Nova, Assunção, Lagoa de São João, Jenipapeiro e Batimbal.

Novas comunidades foram criadas: Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora de Lourdes; reforma das Capelas do Sagrado Coração de Jesus, Jetirana, Santa Rita de Cássia, Pedra Branca e a construção da Capela Nossa Senhora das Graças na Vila Nova.

Assistência com Missas e administração dos Sacramentos nas comunidades que eram assistidas pelos párocos de Capistrano e do Ideal e passaram a ser assistidas pelo pároco de Aracoiaba, sendo elas Manos Kolping , Jucás dos Araújos e Lagoinha.

Assistência de Missas  na Comunidade do Planalto Aracoiaba. Resgate dos Festejos da Padroeira de Aracoiaba, Nossa Senhora da Conceição. Novo carro , nova sala da Secretaria Paroquial e novo Cruzeiro.

Fora criada a Caminhada com Maria com grande participação dos fiéis. Pinturas e restauração da Casa Paroquial e Centro de Pastoral.

Pe. Martinho encontrou na Paróquia 23 membros do MESC, e constituiu novo grupo com 45 membros do MESC. Ao todo somam-se 68 pessoas que dão assistência a Igreja Matriz e Capelas.

Parabenizamos todos os párocos e todo povo de Deus presente em Aracoiaba pela passagem histórica dos 110 anos de evangelização na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição.

A Deus e a Nossa Senhora, nossa eterna gratidão.


Fonte: Texto elaborado pelo paroquiano Lusmar Paz. Retirado do Livro: Tríduo de Oração, em comemoração aos 110 anos da Paróquia de Aracoiaba - em 22 de maio de 2024.



domingo, 8 de setembro de 2024

A CAPELA DO ALTO SANTO E O MILAGRE DO ESPINHEIRO - ARACOIABA - CEARÁ.


  Altar de Nossa Senhora das Dores - Alto Santo / Arraial Santa Isabel / Aracoiaba-Ceará. Foto: Artur Ricardo -  07.09.2024


Capela de Nossa Senhora das Dores - Alto Santo / Arraial Santa Isabel / Aracoiaba-Ceará. Foto: Lusmar Paz - Década de 1980.

           Em 1925 Cirilino pimenta fez a promessa de construir uma capela para a Virgem Maria se ficasse curado de um derrame. Seu pedido foi atendido e a promessa foi cumprida. Cirilino construiu a atual capela do Alto Santo, mas não no local das aparições e sim mais abaixo para que fosse vista pelos que passavam de trem. A capela foi inaugurada no dia 28 de setembro de 1928 com grandes festejos.

          Em 1974 a capela estava abandonada e o teto desabou. Porém, o altar e a imagem da Virgem das Dores permaneceram intactos graças a um prodigioso espinheiro que ali havia crescido e, estendendo os ramos sobre o altar e a imagem da virgem, os protegeu da ruína do teto.

        O estranho espinheiro foi cortado e jogado fora, mas providencialmente, uma senhora que presenciou o fato, levou consigo um galho da planta e teceu com ele uma coroa guardando-a consigo durante quase quarenta anos. Atualmente a coroa feita com o galho do milagroso espinheiro encontra-se no santuário podendo ser vista pelos fiéis.

                                           Coroa de Espinhos feita por Dona Risalva em 1974. Foto: Artur Ricardo -  07.09.2024



 Altar de Nossa Senhora das Dores e a Coroa de Espinho - Alto Santo / Arraial Santa Isabel / Aracoiaba-Ceará. Foto: Artur Ricardo -  07.09.2024


 Parte Interna da Capela de Nossa Senhora das Dores - Alto Santo / Arraial Santa Isabel / Aracoiaba-Ceará. Foto: Artur Ricardo -  07.09.2024

    Quadro narrando a História do Milagre do Espinheiro - Foto: Artur Ricardo -  07.09.2024. 


Fonte: Santuário Mãe das Dores - Paróquia Nossa Senhora da Conceição - Aracoiaba -Ceará. 


sexta-feira, 16 de agosto de 2024

A Origem dos Jenipapos-Kanindés em Aracoiaba - Ceará.

 Indígena Jenipapos-Kanindés conhecida em Aracoiaba como Brasiliana
                (Foto do Acervo de Dr. Salomão Alves de Moura Brasil)

 Texto Adaptado por Artur Ricardo.

Etimologia – De Jenipapo, (fruto silvestre e comestível), é uma palavra de origem tupi yandï'pawa que significa 'fruta que serve para pintar'. Em registros linguísticos mais antigos, a palavra aportuguesada era grafada com 'g', genipapo. Daí o nome científico de jenipapeiro ser Genipa americana. Porém, as línguas evoluem. Hoje, a norma culta convencionou que para as palavras de origem indígena, africana, exótica ou árabe deve-se usar o ‘j’, como jenipapo, jiló, jequitibá, berinjela.

História: O nome Payaku designa uma etnia numerosa que, no século XVI, habitava toda a faixa sublitorânea dos atuais estados do Rio Grande do Norte e Ceará. Hoje, o grupo que ficou mais conhecido como Jenipapo-Kanindé são descendentes dos Payaku que viviam na mesma região. Habitam a Lagoa da Encantada, no município cearense de Aquirás.

Até o século XVIII, os Payaku habitavam os rios Açu, Apodi, Jaguaribe, Banabuiú e Choró. Por sua vez, os Jenipapo e  Kanindé,  semelhantes aos Tarairiú em língua e cultura, tal como os Payaku, viviam nas várzeas do Apodi, Jaguaribe e Choró. Como outros povos não-Tupi, eles ficaram conhecidos pela denominação genérica de "tapuias do Nordeste".

Fontes históricas registram que, no Ceará, os primeiros contatos dos portugueses com estes povos ocorreram entre 1603 e 1608. Arredios e resistentes à colonização, eles sofreram violências, foram escravizados e perderam progressivamente suas terras. Rebelaram-se seguidamente até serem submetidos e quase totalmente dizimados, no decorrer da chamada "Guerra dos Bárbaros", entre 1680 e 1730.

Em 1707 os Payaku foram aldeados por missionários jesuítas no rio Choró, em Aquirás, próximo de onde vivem hoje. Em 1764 a Aldeia dos Paiacús passou a chamar-se Monte-Mor-o-Velho, nome que perdurou até 1890. Na sede da aldeia criou-se a vila de Guarani (1890-1943), hoje município de Pacajus. Os Jenipapo e os kanindé foram aldeados entre 1731 e 1739 no rio Banabuiú, reunidos na Aldeia da Palma e depois em  Monte-Mor-o-Novo-d'América (1764-1858), atual município de Baturité.

Segundo o Livro “Aracoiaba, História em Retalhos”, entre 1500 a.C. e 1000 d.C. no Brasil encontravam-se núcleos de povoamentos Tupi-Guarani que se caracterizavam entre outras coisas, por serem agricultores de florestas tropicais.

Levantamento feito junto a FUNAI em 1984 mostra que os primeiros caminhos de migrações realizados pelos povos indígenas ocorreu entre os povoados de Canoa (Aracoiaba) – Jaguaribe – Iguatu. Mas antes disso, para completar o povoamento primitivo do Ceará, entre os séculos XVI e XVII, os Potiguaras, bem como os Tupis chegaram a diversas regiões do Ceará.

É importante destacar que somente esses originários conheciam o território do Ceará, no final do século XVI, embora desde 1500 as praias cearenses estivem constantemente sendo visitadas por aventureiros europeus, mais precisamente os portugueses, auxiliados muitas vezes por indígenas Tupis.

Nesse mesmo período eram concedidas terras por El-Rei Dom Pedro a seus súditos em vários recantos do Ceará como: Choró, Jaguaribe, Pacoti, Maranguape, Guaiuba, Pacatuba e em terras mais férteis, banhadas de rios e cercadas de serra, como foi o caso da Região do Maciço de Baturité, tendo como principal meio de integração o Rio Aracoiaba, que nasce em Guaramiranga e desemboca no Rio Choró e consequentemente nas praias cearenses.

Por volta de 1712, os jenipapos (que se firmaram em Canoa, atual Aracoiaba. O Distrito de Jenipapeiro recebeu essa denominação em homenagem justamente pela presença desses povos originários naquela região. Recentemente pesquisadores encontraram objetos que comprovam essa presença na localidade), se aliaram aos Kanindés e se digladiaram na bacia do Rio Banabuiú.

Segundo registros históricos, passado um ano, unidos a outras tribos como os Jaguaribaras e Anacés, assaltaram a vila do Aquiraz, causando um massacre com mais de 200 mortos. Esse fato ficou conhecido como rebelião de 1713/1715, que quase pôs fim aos brancos do Ceará. Esses conflitos eram constantes entre índios, estrangeiros e seus descendentes. 

Foi o caso das tribos dos Jenipapos, que foram derrotados finalmente em 1721. Quatro anos depois, foi a vez dos Anacés e Jaguaribaras, atacarem no riacho Aracoiaba, no Maciço de Baturité. Segundo escritos da época aponta esse ataque como sendo o mais sangrento já visto entre indígenas em terras cearenses. Esse fato ficou conhecido como “Guerra entre o Rio Aracoiaba”.

Em 1739, o indígena jenipapo Miguel da Silva Cardoso, com 32 anos de idade, pediu ao governador de Pernambuco, já que a Província do Ceará estava ligada à Pernambuco, amparo à sua gente, que lhe concedeu aldeamento.

Logo o governo de Pernambuco concedeu aos Jenipapos, juntamente com os Kanindés que se instalassem na região denominada de Tabuleiro da Areia, em Banabuiú. A seguir foram conduzidos para o alto da Serra de Baturité, num local que anos depois recebeu o nome de “Comum”.

Em 14 de abril de 1764 foi instalada a Real Vila de Monte-Mor, o Novo da América, nesse período foi elevada à condição de Vila, posteriormente em 1859, à categoria de cidade, com o nome de Baturité. Alguns dados mostram que em 1808 a Vila de Monte-Mor, o Novo da América, contava com apenas 1500 habitantes, sem contar com os moradores dos núcleos de Candeia, Acarape, Cajuais e Pindoba.

Para o fortalecimento e formação da Vila, as autoridades da época contaram com tribos indígenas como os Quixelôs da Missão da Telha, localizadas na cidade de Iguatu, bem como os Jenipapos e Kanindés da Missão de Nossa Senhora da Palma e mais alguns remanescentes de tribos diversas instaladas nas regiões próximas.

Não podemos esquecer que os Jenipapos viviam primeiramente no Jaguaribe, de onde foram retirados para o Piauí, juntamente com os Icós, por ordem do governador em 1723.

Já os Kanindés, seus parentes, viviam no Rio Grande do Norte e apoiaram os holandeses no século XVII que a partir de 1699 já estavam pacificados no Ceará, após a derrota dos flamengos, quando ocupavam as vertentes do Rio Curu ao poente da Serra de Baturité.

As terras que abrange a Região do Maciço de Baturité foram ocupadas primeiramente por aldeamento indígenas que vindos de diversos recantos do Ceará procuraram fazer aldeamentos que com o tempo foram formando vilas e consequentemente cidades, foi o caso de Baturité, Canoa (Aracoiaba) e demais cidades da região. É tão provável esse estudo que muitas cidade do Ceará, estão ligadas diretamente com a língua Tupi-Guarani, é o caso de Aracoiaba que em Tupy significa “Cidade onde os pássaros cantam”; Itapiúna – “donde se obtém lugar predominantemente estrutura em pedras pretas” (Silveira Bueno); Baturité – “Serra por excelência” (Silveira Bueno); Aratuba – “Lugar alto” (Batista Aragão); Acarape – “Caminho dos Acarás (peixe)” (Theodoro Sampaio); Ocara – “Terreiro, área fora de casa” (Straadelli); Pacoti – “Lagoa onde as colheitas são constantes” (Thomaz Pompeu Sobrinho).

 

 

 

Referências

Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística https://semil.sp.gov.br/2016/06/jenipapo-se-escreve-com-j/#:~:text=Jenipapo%20%C3%A9%20uma%20palavra%20de,jenipapeiro%20ser%20Genipa%20americana%20L.. – Acessado em 07 de abril de 2024.

Trechos do texto de Maria Sylvia Porto Alegre (UFC)  - Site (Povos Indígenas noBrasil.https://pib.socioambiental.org/)   https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:JenipapoKanind%C3%A9#:~:text=Hist%C3%B3rico%20do%20contato&text=Fontes%20hist%C3%B3ricas%20registram%20que%2C%20no,e%20perderam%20progressivamente%20suas%20terras.  – Acessado em 07 de abril de 2024.

MATOS, Rose Mary Santana. Aracoiaba, história em retalhos. Vol. I.  Fortaleza-Ceará. Ed. Premius. 2012. pp. 52-55.

ARAGÃO, R. Batista. Índios do Ceará & Topônimos Indígenas. Fortaleza. Barraca do escritor Cearense. 1994. pp. 114-150.

JUCÁ, Levi. Pacoti: História e Memória. Fortaleza. Premius. 2014. p. 75.

 

HISTÓRIA DE PACOTI - CEARÁ

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