Dos arquivos da AIB
Por João Artur.
Ao
estudarmos a história do Brasil, logo se percebe que é complexa e requer uma
analise mais apurada sobre o assunto. Aqui abordaremos apenas um resumo do que
foi esse levante integralista e seu contexto histórico.
A
primeira pergunta que logo nos vem à mente é: O que foi esse levante? Na
verdade foi um movimento armado brasileiro, ocorrido precisamente na noite 10 de
maio de 1938, realizado por integrantes da Ação Integralista Brasileira – A.I.B; contra o governo autoritário de Getúlio Vargas.
Dos arquivos da AIB
Para
o governo uma noite sombrio, já que o Palácio do Catete (Palácio Guanabara –
Rio de Janeiro) foi tomado por algumas dezenas de integralistas que, sob o
comando do então Severo Fournier, mantiveram o presidente Vargas e alguns de
seus familiares cercados por aproximadamente três horas. (Do diário de Getúlio,
em Paulo Moreira Leite, “Getúlio volta à cena”, Veja, São Paulo, 13/12/1995)
O Globo Página 1 - Edição de 11 de maio de 1938
O Globo - Edição das 13 Horas.
Antes
que a polícia ou Exército chegasse ao local, o grupo procurou resistir com
armas na mão. Com a chegada do policiamento, houve troca de tiros, quando quatro
guardas e oito dos atacantes vieram a óbito.
Após
o ocorrido, segundo Darcy Ribeiro, “em represália, são perseguidos e presos
mais de mil integralistas e deportados alguns líderes liberais que apoiavam o
levante, como Otávio Mangabeira, Júlio de Mesquita Filho, Armando de Salles
Oliveira, Paulo Duarte e Flores da Cunha”. Já Plínio Salgado, Gustavo Barroso e Miguel
Reale (fundadores da AIB em 07 de outubro de 1932), chefes dos chamados
camisas-verdes, como eram conhecidos os integralistas, permaneceram intocados e
apoiando Vargas, enquanto Severo Fournier foi para o calabouço (onde abandonado
e amargurado, morreria por causa de maus-tratos e tuberculose). Estando na
prisão, recebeu carta de outro prisioneiro politico Luís Carlos Prestes:
“Nessa
luta, meu amigo, não devemos ver os homens e apoiar até o próprio Getúlio se
amanhã se compreender a necessidade nacional de tal programa. E quem lhes
escreve isto é o homem que, pessoalmente tem a Getúlio, o mais justificável
ódio. Você deve saber que foi ele quem mandou entregar a Hitler minha dedicada
companheira em estado de adiantada gravidez”. (Darcy Ribeiro. 1939)
Aqui
Prestes orienta o amigo prisioneiro como proceder diante da realidade e cita a
deportação de Olga Benário Prestes, ocorrido em 23 de setembro de 1936 quando embarcou
no navio La Coruña rumo à cidade de Hamburgo, ela era militante comunista alemã de origem judaica. Ao chegar à Alemanha sofreu torturas nos campos de concentrações Nazista. Com o nascimento de Anita Leocádia Benário Prestes, em Berlim (27 de novembro do mesmo ano), foi-lhe retirada logo dos braços, após o nascimento; com certeza a pior de todas as torturas sofridas. Olga faleceu em 23 de abril de 1942, no Campo de Extermínio de Bemburg.
Contexto histórico e as causas do Levante.
Os
integralistas foram os grandes apoiadores de Vargas no combate contra os
comunistas que no Brasil vinha ganhando inúmeros adeptos. Mas com o fechamento
de todos os partidos políticos por Getúlio Vargas, após a decretação do Estado
Novo em novembro de 1937, frustrou a AIB, que imediatamente gerou forte
descontentamento dentro da Ação Integralista Brasileira.
A partir do descontentamento traçaram alguns objetivos com a finalidade de derrubar o governo
Vargas, por meio de um golpe, e com a reabertura e funcionamento da AIB, que
havia sido fechada pelo governo.
O Levante
integralista foi mais um dos movimentos contrários ao autoritarismo implantado
pelo governo de Vargas durante o Estado Novo (1937 a 1945). O Brasil nesse
período era governado por governo centralizador, e sem democracia, perseguindo
e prendendo opositores. Como vimos anteriormente, fechou partidos políticos,
estabeleceu a censura e controlou todos os sindicatos. Essa forma de governo
gerou insegurança e insatisfação entre civis, militares e políticos brasileiros
que pretendiam o restabelecimento da democracia no país. O que não foi o caso,
já que em 1964, ou seja, dezenove anos depois, o Brasil passaria por outro
período de insegurança e incertezas políticas. Com o golpe militar de 1964, mais
uma vez essa “democracia disfarçada de ditadura”, pouco ou quase nada vivida
pelo povo brasileiro, já que ao longo de sua história foi mergulhada em golpes
militares e crises políticas. Ainda hoje o fantasma da ditadura assombra o Brasil com seus gritos de torturas ecoados pela sua história.
Dos arquivos da AIB
Dos arquivos da AIB
Bibliografia
CAVALARA, Rosa Maria F. – Ideologia
e organização de um partido de massa no Brasil. Bauru. EDUSC. 1999.
MOTA, Carlos Guilherme
(Org.). História do Brasil: uma interpretação. – São Paulo: Editora 34, 2015
(4ª Edição). Pp. 662-663.
Diário de Getúlio em Paulo Moreira
Leite, “Getúlio volta à cena”. Veja. São Paulo. 13/12/1995.
Ensaio de Alejo Carpentier)
- Revista do Memorial da América Latina: “Villa-Lobos”, Nossa América, Nº 1;
São Paulo, mar-abr. 1989. Pp.84-8.
“Depoimento de Darcy Ribeiro”
[dado a Luís L. Grupioni e Maria Denise Fajardo Grupioni]. Em BIB – Revista Brasileira
de Informação Bibliográfica em Ciências Sociais, Nº 44, Rio de Janeiro, jul.- dez.
de 1997.
Imagens
Dos Arquivos da memória da Ação Integralista Brasileira - AIB.
Dos Arquivos do Jornal O Globo.
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