(Imagem: Reprodução/O Espetáculo Democrático)
Por Malú Damázio
Ano de eleições presidenciais. As pessoas
vão às ruas questionar o governo e lutar por direitos básicos, como
alimentação, saúde, educação e inclusão social. Querem transformações,
querem um país que se preocupe com seus cidadãos. Querem ter acesso às
riquezas da nação. O presidente da República já está no poder há mais de
um mandato e defende, nas eleições, o candidato de seu partido. As
mudanças duramente conquistadas não poderiam ser postas a perder assim,
tão facilmente, com a troca de siglas. Por outro lado, esperança é a
palavra da vez para a oposição.
As propagandas eleitorais são um declarado FLAxFLU:
Partido A: “Tô com medo. Faz tempo
que eu não tinha esse sentimento. Porque eu sinto que o Brasil, nesta
eleição, corre o risco de perder toda a estabilidade que já foi
conquistada. Eu sei que muita coisa ainda precisa ser feita, mas também
tem muita coisa boa que já foi realizada. Não dá para ir tudo para a
lata do lixo!”
Partido B: “Não perceberam que o
mundo mudou? Ou melhor: que nós mudamos o mundo e que os velhos truques
já não funcionam mais. […] Quero justiça e oportunidade! Quero ter meu
emprego, meu salário, meu dinheiro para comprar as coisas para mim e
para os meus filhos. […] Foi por isso que resolvi parar, examinar e,
desta vez, fazer diferente!”
Você conhece esse cenário, não é mesmo? O
curioso é que estou falando do Brasil de 2002. Fernando Henrique
Cardoso, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), ainda era o
chefe de Estado e Luís Inácio Lula da Silva, do Partido dos
Trabalhadores (PT), tentava, pela terceira vez, governar o país. Ele e
José Serra eram os candidatos da vez. Um lutava para mudar e o outro
para continuar mudando.
O resultado da disputa nós já sabemos:
Lula se tornou presidente do Brasil em 2003 e conseguiu a reeleição em
2006. O governo do PT teve aprovação e continuidade, assim, Dilma
Rousseff foi eleita em 2010 e acaba de entrar em seu segundo mandato
este ano. Durante o período, o PSDB assumiu caráter de oposição com José
Serra, Geraldo Alckmin e Aécio Neves.
Nas últimas eleições, em 2014,
mergulhamos em uma trama parecida com a de 12 anos atrás. O embate foi
acirrado, as propagandas dos dois partidos pregavam ideias
parecidíssimas. Só que, ironicamente, os papéis foram invertidos. O PT
dizia que o Brasil não poderia parar de mudar e por a perder as
transformações conquistadas nos últimos anos e o PSDB pregava um novo
rumo para o país, o fim de um governo que há muito permanecia.
Disputa de poderes
Você provavelmente tem alguns flashes e
memórias daquele período, mas imagino que não se lembre de tudo com
clareza. Pois bem: este jogo de poderes promovido por partidos de
situação e oposição foi muito bem retratado no documentário “O
Espetáculo Democrático”, lançado em 2004 e gravado durante as eleições
de 2002. O filme mostra, em 40 minutos, a campanha de Lula para a
presidência e sua vitória, ao mesmo tempo em que contrapõe as
propagandas realizadas pelo PT às do PSDB, que tentava a permanência no
governo por meio da eleição de José Serra. As contradições de ambos os
partidos e os esforços – muitas vezes duvidosos – empreendidos pelos
rivais são evidenciados ao longo da trama.
O documentário é costurado por
depoimentos do próprio metalúrgico e de Fernando Henrique Cardoso. Além
disso, ele faz uma retrospectiva da trajetória de Lula nas eleições,
desde sua primeira vez como candidato, contra Fernando Collor, em 1990, e
as sucessivas derrotas em 1994 e 1998. O ex-presidente deposto, aliás,
também foi entrevistado pela equipe do filme.
Uma das sacadas mais interessantes foi
mostrar a reação da população brasileira durante o período de eleições e
após a vitória de Lula. Cenas da festa da posse presidencial,
entrevistas com pessoas de diversas classes sociais e questionamentos
sobre a expectativa de como seria o governo do então presidente trazem à
tona os ânimos políticos da época. Vale a pena acompanhar também os
depoimentos dos marqueteiros e da equipe de assessores da campanha do
metalúrgico e a reação da imprensa à sua vitória.
Bom, acredito que o mais legal de tudo
isso é poder contextualizar o documentário com os dias de hoje e com as
eleições do ano passado. Além de aprender uma etapa da história recente
do Brasil, você pode ver como a situação se alterou – e, estranhamente,
permaneceu a mesma – de lá para cá. Dá uma olhada!
Fonte: Guia do Estudante
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